sábado, 21 de abril de 2012

Samuel Cirnansck

A tradução literal do nome dessa seção é “É assim que eles fazem”. Nada mais condizente com o tema do que mostrar como um dos maiores estilistas do Brasil faz. Aliás, ele prefere não receber essa alcunha: “Eu não sou estilista. Não tenho nenhuma formação. Me considero costureiro e diretor criativo, mas não estilista”. Samuel Cirnansck esteve no Moinhos Shopping na última quinta-feira, 19, encerrando – com chave de ouro – as atividades do Moinhos Preview, evento de jornalismo de moda e mercado editorial do qual eu já tinha falado aqui.

Samuel falou de sua carreira e suas convicções, dando pinceladas em assuntos mais técnicos como o método utilizado no feitio de seus vestidos: “Eu sempre quis fazer luxo, mas levei algum tempo para acertar a mão”. Em 2000, com muito pouca experiência em costura, foi convidado a assumir uma maison em Nova Iorque. Recusou. Preferiu ficar no Brasil, via futuro na moda nacional: “Uma semana depois me inscreveram sem eu saber no Projeto Lab (espaço de experimentação para novos estilistas) e acabei entrando”.

[caption id="attachment_3859" align="aligncenter" width="529" caption="Vestido da coleção outono/inverno 2012"][/caption]

Hoje, mais de dez anos após seu início, fazendo camisetas para a Doc Dog, Samuel já é reconhecido e conhecedor do mercado. E trabalha por amor: “Se não amasse o que faço, estaria plantando batata”, diz o estilista – ops, desculpe, costureiro – que, caso não tivesse essa profissão, seria engenheiro agrônomo. Acredite, para ele, tem tudo a ver com moda.


Samuel é mesmo essa pessoa um tanto confusa. Mas seu caos é completamente organizado, ele garante. Apesar de fazer vestidos caríssimos, cujos preços concorrem até mesmo com carros, a consciência do costureiro é invejável: “Eu vivo no luxo e faço luxo, não significa que eu não olhe para os lados e veja o que tem de ruim no mundo”. Junto à mente de extrema criatividade – é capaz de criar uma coleção inteira em 20 minutos –, há uma visão política definidíssima e uma oratória que deixaria deputados de queixo caído. “A moda é o desejo mais superficial de uma pessoa, só anda quando todo o resto está legal, quando a pessoa já tem tudo”. É, realmente faz sentido.

Autodidata na pintura e na costura, Samuel é um verdadeiro artista, e sua inspiração é a mulher. Para ele, vender para homens é muito mais fácil do que vender para mulheres, uma vez que homens sabem o que querem e tudo tem que ser muito prático, sem muita frescura. A mulher, por outro lado, tem que ser entendida: “Quando uma mulher vai ao meu ateliê querendo um vestido, eu converso, para conhecê-la, saber quem ela é, quais são seus gostos”. A ideia é que a cliente saia de lá satisfeita, afinal, além da vitória pessoal para o próprio Samuel, ele conquista outra coisa: a propaganda positiva, coisa que não se consegue agradando só a críticos.

Falando em crítica, Samuel sequer as lê, para não se influenciar pelo que é dito. A opinião que realmente importa para ele é da cliente, a pessoa que o procurou por um vestido, não a de alguém que só viu o desfile e pode não ter gostado do que viu. “É muito complicado dar a sua opinião sobre algo quando você não conhece o trabalho que tem por trás.” Cada vestido tem cerca de 60 metros de tecido e, se não tivesse outros costureiros trabalhando junto, levaria até dois meses para ser feito. Pensando nisso, não é surpresa o desejo de Samuel para o futuro: “Espero que lembrem do meu trabalho pelo trabalho”. E que trabalho.

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